Fonte: Broadcast | Publicado em 27/5/2024 | Clique aqui e veja a publicação original
Após dobrar de tamanho em 2023 e manter a trajetória de alto crescimento no primeiro trimestre de 2024, o mercado dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) está sob alerta por conta da catástrofe climática que abala o Rio Grande do Sul, líder nacional em produção de arroz e segundo maior produtor de soja. Segundo especialistas, além da ameaça às cadeias logísticas e à produtividade do agronegócio gaúcho, a tragédia também eleva o risco de inadimplência no setor, o que ameaça em especial a classe Fiagro de crédito (Fiagro-FIDC).
“Quando eu falo de Fiagro-FIDC, estou falando de um risco de inadimplência, que pode ser impulsionado pela catástrofe no sul e pelos eventuais problemas logísticos, já que a produção não pode ser escoada”, comenta o advogado Walter H. Fritzke, head de mercado de capitais do escritório Martinelli Advogados.
Levantamento parcial da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) obtido pelo Broadcast na sexta-feira revela que as tempestades registradas desde 29 de abril no Rio Grande do Sul provocaram pelo menos R$ 10,4 bilhões em prejuízos financeiros. A agropecuária é o setor econômico privado com mais perdas financeiras levantadas, somando R$ 2,945 bilhões.
Os impactos sobre os Fiagros
Cada Fiagro tem características próprias de composição da carteira, portanto, para analisar os impactos do desastre climático no Rio Grande do Sul sobre esses produtos é necessário avaliar cada ativo individualmente, segundo Fritzke. Além dos Fiagro-FIDC, existem os Fiagro-FII, que investem em propriedades agropecuárias, e os Fiagro-FIP, que aportam recursos na participação em empresas da cadeia do agronegócio.
Trata-se de um veículo cada vez mais procurado por investidores, tendo em vista a isenção de cobrança de Imposto de Renda (IR). O patrimônio líquido dos Fiagro cresceu 152% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 34,8 bilhões, segundo dados públicos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) compilados pelo escritório Martinelli Advogados.
Para avaliar os impactos das chuvas no Rio Grande do Sul sobre esses produtos de investimento, é preciso verificar se o Fiagro tem algum tipo de ligação com o Estado, orienta Pedro Saad Abud, especialista em M&A (fusões e aquisições), emissão de dívidas e fundos de investimentos do escritório Abe Advogados.
“Aqueles [Fiagros] com exposição a empresas do RS ou que se relacionem com elas tendem a ter uma piora no desempenho, com eventuais renegociações de prazos e condições em determinados investimentos realizados”. Isso inclui, segundo ele, Fiagros-FIP que investem em empresas gaúchas e Fiagros-FII que possuem propriedades do Rio Grande do Sul no portfólio.
A questão da recuperação do Rio Grande do Sul após a catástrofe climática também tem sido motivo de preocupação e muita discussão. Afinal, trata-se de um evento sem precedentes, o que gera incerteza. Para Pedro Saad Abud, do Abe Advogados, do ponto de vista jurídico “será necessário financiamento da atividade para a reconstrução, e os Fiagros podem ajudar e fazer este papel, fornecendo recursos
financeiros para o setor”.
Para Manuel Eduardo Cruvinel Machado Borges, tributarista do escritório Peluso, Stupp e Guaritá Advogados, “a dimensão da tragédia também exigirá linhas especiais de créditos e muita injeção de recursos em todos os setores produtivos”, com o intuito de favorecer a retomada das atividades, reabastecer os estoques e recuperar a infraestrutura.