Se a pandemia da COVID-19 já causou tantas dores e dificuldades para o ser humano, agora temos uma guerra entre Rússia e Ucrânia em curso que está causando ainda mais horrores. O resultado para essas duas situações é o mesmo: um dano irreparável. Se o lado humano fica completamente abalado, também se percebe que o mercado mundial, e assim o dia a dia das pessoas, sofre com esses fenômenos, gerando uma reflexão sobre o futuro.

Portanto, se ontem era defendido que o foco deveria ser naquilo que as empresas e cooperativas são fortes, enveredando todos os esforços para aumentar a eficiência e assim expandir mercados, obter maiores resultados e buscar constantemente o pleno desenvolvimento. Já o que não era feito ou que se fazia sem boa qualidade ou bons resultados, buscava-se adquirir no mercado, especialmente no mercado mundial, onde era possível comprar o que não se tinha internamente ou caso tivesse, havia a opção de importar com preços mais atraentes do que os valores nacionais.

Ocorre que esse mundo essencialmente globalizado que por tantos anos se buscou e foi defendido (e que contribuiu para o desenvolvimento dos países), agora foi fortemente afetado, fazendo com que se repense um novo mercado, com menos dependência externa e mais esforços para ter internamente aquilo que é essencial para o negócio e o país. Isso porque a dependência externa de produtos/insumos essenciais não se mostrou eficaz, o que se percebe claramente na questão dos fertilizantes para o agronegócio, do refino do petróleo e até mesmo na necessidade de containers para o escoamento dos produtos, causando grandes embaraços logísticos.

Dessa forma, não só os países, mas sobretudo as empresas precisam rever seus planos estratégicos para definirem aquilo que é essencial para o desenvolvimento de sua atividade e entender os meios a fim de que não haja imprevistos por qualquer intempérie que ocorra. Para isso, tornou-se fundamental:

• analisar se há condições de ampliar o número de fornecedores, inclusive em localidades diferentes;
• verificar se existe a possibilidade de produzir o insumo necessário para sua atividade.

Nesse sentido nota-se a força que as cooperativas possuem para buscar novos caminhos e assim contribuir para o desenvolvimento da produção de bens estratégicos não só para as próprias cooperativas, mas também para o mercado.

O desenvolvimento tecnológico há tempos é a tônica das cooperativas, inclusive das agropecuárias, desde a produção de sementes e demais insumos que já possuem alta tecnologia, passando pela agricultura de precisão com equipamentos digitais e até o aperfeiçoamento da logística para a chegada dos alimentos à mesa da população, o que demonstra a importância da atuação das cooperativas.

A reserva de recursos para tal finalidade contribuiu muito para o crescimento das próprias cooperativas. Porém, diante do atual cenário, é necessária ainda mais disponibilidade financeira para que esses investimentos sejam maiores, inclusive observando a possibilidade de aquisições de empresas tecnológicas, efetuar parcerias ou contratação de técnicos voltados para o desenvolvimento de insumos ou produtos. Visa-se assim proteger a própria cooperativa e o mercado nacional da dependência externa por produtos que podem se tornar escassos, além de mais caros, impactando os preços no mercado interno.

É estratégico ao país que as cooperativas contribuam para o desenvolvimento e implementação de novos sistemas de produção de alimentos, evitando (ou diminuindo) a dependência externa, mesmo que para isso também seja necessário investir tempo e recursos nos pontos mais fracos, pois assim contribuirá de forma ativa para colocar comida na mesa da população, garantindo a paz!

Ricardo Costa Bruno, sócio da área de Agronegócios e Cooperativas do Martinelli Advogados